terça-feira, 30 de março de 2010

Tudo na vida são transferências energéticas


Cenário 1
Cuca toda contente, a fazer caras em frente ao espelho no provador da loja Red Globe, vestida com o maravilhosamente fashion fato-macaco que tenciona comprar.
Mete a cabeça de fora do provador e chama a senhora empregada para que lhe marque as baínhas. Isto porque Cuca é assim… como direi…? A puxar para o petite! Além disso, se há mistério por esclarecer é o de saber quem são as esqueléticas que cabendo num 34 têm altura suficiente para não ter que cortar metade das calças.
Senhora empregada a colocar alfinetes no macaco novo da Cuca:
- Está bem assim?
- Não, não…está curto! Quero as calças muuuuito compridas para usar com sapatos muuuito altos.
A senhora empregada lá marca as baínhas, Cuca paga noventa euros pelo fato-macaco fantástico e vai-se embora sorridente com um papel na mão para vir levantar o macaco no dia seguinte.

Cenário 2
Cuca toda contente, a fazer caras em frente ao espelho de casa enquanto experimenta o tal do macaco que foi buscar à loja naquela manhã.
Os olhos a descerem lentamente até à zona dos tornozelos - à mostra - e o espelho a devolver um olhar que deixou de ser de admiração para passar a ser de completo desespero.
- F…..!!! (cuca só diz palavrões em inglês porque acha que se for em "estrangeiro" não conta).


Interlúdio
Apesar do seu lendário mau-feitio (grandemente exagerado por gente dada a injustiças fáceis, diga-se de passagem), Cuca tem dificuldades em lidar com reclamações. Em primeiro lugar, é demasiado hedonista para se chatear com mundividências. Em segundo lugar, em matéria de estados de espírito, Cuca é propensa à bipolaridade: ou está tão de bem com a vida que fica completamente à mercê de qualquer conversa estúpida que lhe impinjam, ou se apresenta de tal forma chateada que é preciso chamar o INEM para a acalmar.
Consciente das suas limitações mas decidida a ir reclamar pelas pernas curtas do macaco, Cuca faz uma retrospectiva das situações idênticas que já viveu e é confrontada com uma visão de si própria a ser convencida pela senhora da loja de que não se pode fazer nada e que o melhor é render-se à evidência e usar o macaco com sapatos sem salto. Como Cuca não tem nenhuns, a sua visionária capacidade de antecipação permite-lhe ver-se a si própria a sair da loja e a agradecer a toda a gente, com o macaco curto demais numa mão e um novo saquinho contendo uns sapatos cor-de-rosa, sem salto, acabados de ser impingidos pela empregada assassina de macacos, na outra.
Cuca é extraordinariamente inteligente e, como tal, aprende com as experiências do passado e leva muito a sério as antevisões dos seus próprios disparates. Por conseguinte, prepara-se psicologicamente para este encontro decidida a apresentar uma reclamação eficaz e sair da loja com um fato-macaco que lhe sirva ou, no mínimo, com os noventa euros de volta, para ir comprar outro igual numa loja onde ainda não tenha feito um escândalo.
O problema é que a boa disposição matinal de Cuca surge como um obstáculo ao sucesso da sua missão. Então, a pragmática Cuca toma a inteligente decisão de se auto-enfurecer antes de se apresentar na loja.
Como? Perguntarão V. Exªs. Simples!
Cuca decide limpar a casa toda (excepto a casa de banho, pronto!) e a tarefa rende-lhe 30 pontos de irritação. Cuca decide entregar a declaração de impostos na internet e com isto alcança 60 pontos de fúria.
Munida de ódio e à beira de começar a espumar, pega no seu carro e a caminho da loja ocorre-lhe que, pelo sim, pelo não, o melhor é passar num balcão da Caixa Geral de Depósitos para que não haja nenhuma possibilidade de não cuspir na cara da senhora empregada à primeira palavra que lhe dirija.


Cenário 3
Meia hora depois, com a escala de ódio exponenciada a níveis insuportáveis para um simples ser humano, vermelha, a suar, a espumar e com o rosto transfigurado pela agonia:
- Temos aqui um problema m u i to g r a v e!!!
Cospe Cuca, já encostada ao balcão da loja e a abanar o macaco em frente ao seu corpo para melhor ilustrar o problema das calças por cima dos tornozelos.
- Um segundo…por favor…
A menina da loja foge para um canto e chama a colega, especializada em situações difíceis, que se aproxima com um falso ar de segurança e um daqueles sorrisos acalma-loucos.
- Então? O arranjinho não ficou bem?
E antes que Cuca tenha tempo de lhe responder…
- Não há problema nenhum. A senhora dá-me o talão que nós mandamos vir outro. Desde já pedimos imensas desculpas pelo incómodo, mas não se preocupe que vamos dar prioridade ao assunto da senhora e amanhã está tudo pronto. Lamentamos imenso.
Novo sorriso acalma-loucos. Competência totalmente british.


Epílogo:
Dois minutos depois, Cuca a transbordar com o ódio de que se muniu e que não teve oportunidade de utilizar, aos gritos no café em frente à loja a chamar de tudo à pobre brasileira que teve o azar de a atender, porque o café estava assim…assim…como direi…? Menos quente do que aquilo que Cuca queria…

5 comentários:

  1. Em tempo: vou postar uma nota no blog da Susie Bubble; o macaco vai assentar-lhe lindamente naquelas perninhas de hobbit.

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  2. Hum.... Se bem te conheço, os pontos acumulados não se esgotaram no café servido pela brasileira.... é que estou mesmo a vê-los a explodirem em cheio nas ventas de alguém!!! Pena que a senhora do leque foi à vidinha dela!!!!!

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  3. Gi, pode ter havido mais qualquer coisa, pode...
    Mas se é para vitimar alguém, mais vale ser aos pares. Sempre podem fazer uma associação!

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  4. Medusa, entretanto informei-me e o destino dos macacos com pernas curtas é o outlet do Freeport, secção defeito, a metade do preço. Se a hobbit chinesa quiser, pode ir lá buscá-lo e viver com a glória de usar algo que eu rejeitei.

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