segunda-feira, 5 de abril de 2010

A Cama é um deserto


"De repente a cama vazia. A sensação de não pertencer mais aqui. Os corpos habituam-se aos corpos. Quando se separam é sempre por um corte, um rasgão. Fica uma ferida, é preciso ter cuidado, prestar atenção. As mulheres são seres alados que voam para longe. Os graves homens não. De repente, à luz da noite, a cama é um deserto.
Chamemos as coisas pelos nomes. O amor que transportamos vai-se gastando por onde passamos. Não nasce do vento. O que levamos deste amor para aquele é muito pouco, não chega para nada. É preciso ter a vontade e a energia e a concentração para começar tudo outra vez. Não somos donos de nada. O que importa é o que só passa e nem se deixa tocar com os dedos. É preciso ter cuidado. De repente, à luz da noite, uma só aflição."
Pedro Paixão, in Amor Portátil, Livros Cotovia

3 comentários:

  1. um dos meus escritores favoritos a par de José Luís Peixoto, Al Berto e Haruki Murakami.

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  2. Também gosto imenso dos dois primeiros, mas do Haruki Murakami só conheço algumas short stories.

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  3. Tenho todos os livros do Murakami. Ele tem um livro com vários contos que se chama "A rapariga que inventou um sonho". (não é de todo o meu preferido).

    Irás gostar do "Sputnik, meu amor".

    P.S- A título de curiosidade (e de alguma vaidade também), digo-te que costumo trocar correspondência electrónica com o Pedro Paixão.

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