quinta-feira, 6 de maio de 2010

Os dias vodka red bull - (Comentário ao post da Estrelita: Lisboa, Setembro 1997)



Estrelita não exagerou nada. Era um papel de parede pior que horrendo. Acho que agora se chamaria art decor. Na altura, quando tínhamos que viver embrulhadas nele, era só tenebroso. Especialmente quando se estava de ressaca. E havia muitas ressacas naqueles tempos, ou não fossem eles os dias vodka redbull.
Também foram os dias das Polaroid nas paredes, do alucinante ritmo da noite de Lisboa, das massas italianas com vinhos manhosos, das camas que se partiam misteriosamente, do elevador a que atribuímos um nome próprio.
Dos Verve para Estrelita e dos Alphaville para mim.
Foi nessa casa mítica que percebemos que a normalidade não queria nada connosco. E que, em retaliação, passámos a não querer nada com ela.
Acho que os nossos gentis senhorios teriam ficado surpresos se soubessem que, à noite, as meninas-doutoras se chamavam Maria e Madalena, eram enfermeiras ou hospedeiras (e até chegaram a ser engenheiras) e tinham uma especial propensão para se enganar nos números, na hora de deixar o contacto telefónico.
Ao perceber que nas memórias dessa casa nunca foi inverno, como se tivéssemos caído num milagre dos trópicos que se prolongou por quase dois anos, ocorre-me que devemos ter sido muito felizes.
Apesar das tragédias que nos iam acontecendo, mas das quais ainda tínhamos a capacidade de rir à gargalhada por, até as tragédias, terem o charme exótico das coisas novas. Também ajudou o facto de ser impossível levar a sério qualquer drama enquadrado por aquele tétrico papel de parede.
Fomos felizes da maneira como que se é feliz quando nem sequer se pensa nisso.

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