quinta-feira, 3 de junho de 2010

Jogos de Verão

A paixão dói e isso é coisa que se aprende demasiado cedo.
Podemos ter perdoado ao miúdo de 15 anos o facto de não estar a olhar para a porta no preciso instante em que entrámos naquela festa de aniversário onde só fomos para que ele nos visse. Acabamos sempre por não nos perdoar a nós próprios as horas que passámos ao espelho a antecipar a falhada entrada triunfal.
Vão-se coleccionando pequenos e insignificantes instantes de frustração. Com mais lágrimas ou menos ranho consoante a natureza de cada um e a habilidade na escolha do depositário de sentimentos.
Com o tempo e a idade dá-se o salto qualitativo para o amor.
Mas no código cerebral histórico inconsciente de cada adulto fica uma mensagem de alerta. Uma resistência secreta à paixão. Uma espécie de anti-vírus instalado que faz com que a paixão só seja admitida a entrar na sala quando o dono da casa está distraído.
Os adultos têm mais medo da paixão do que do amor. E compreende-se que assim seja.
Do amor sempre colhe uma outra coisa que se guarda numa cave bolorenta ou numa marquise soalheira. Consoante a natureza de cada um e a habilidade na escolha do depositário de sentimentos.
Da paixão nunca ninguém conseguiu retirar nada.
E apesar de entre os dois só a paixão ter cura, é dessa que os adultos mais fogem. Talvez por saberem que tudo o que nada nos deixa, só nos tira alguma coisa.


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