segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Desertos

Gastei as derradeiras horas do nosso penúltimo ano, com a boca suja pela areia do deserto e os pés gelados pelo frio da alma, num túmulo chamado Abu Simbel.
Confundi o fogo-de-artifício com um ataque terrorista e entreguei a minha morte à tua consciência com o regozijo daqueles que estão dispostos a dar a vida por um segundo de razão.
Nessa noite escura, com o vestido encharcado de champagne a corroer-me os ossos, procurei uma cadeira com vista para o Sudão e fiquei ali sentada
A odiar-te.
O ódio é uma viagem de onde se regressa com areia entre os dentes.

Se no primeiro instante do nosso último ano o fogo-de-artifício me tivesse detonado o corpo, eu teria tido o privilégio de morrer néscia

Deste gosto a deserto, na boca.

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