quinta-feira, 3 de março de 2011

N.

do nosso encontro casual sobrou muito do pouco que sempre houve.
chamaste-me pelo diminutivo do nome da minha mãe, de quem vocês guardam na memória o rosto que eu decalquei. a falta de visitas conservam-no na idade em que me vão encontrando.

o parentesco longínquo foi sempre medida da fragilidade da afinidade; a diferença de idades, somada à tua vida desregrada, tornou a nossa amizade inverosímil.
sempre fizeste parte de um lote de gente que me foi banida, portadores de uma estrela de David do desvario.
estroinices, demasiadas, com o irmão que acabou por te deixar pelo caminho.
quatro maridos, filhas, uma de cada um dos primeiros três. a primeira, menos de dois anos mais nova que eu.
tantas casas, recomeços. regressos.
sabia-te das infelicidades pelos outros.
não imaginei que ia descobrir que eram, afinal, a tua vida vista sob a luz errada. admirei-te os olhos, que nunca tinha reparado serem herdados da Laura.
e a mulher em que entretanto me tornei percebeu que passaste toda a tua vida apaixonada.

dois beijos e um sorriso franco.
obrigada.


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