sábado, 19 de março de 2011

Não é que eu esteja a ficar paranóica...

Não sei se é do excesso de oxigenação, do sindroma de privação por falta do monóxido de carbono ou de uma outra qualquer desorientação química.
Sei é que o meu cérebro começa a desenvolver a convicção de que nesta terra nada é o que parece.
A velhinha estrábica que me espreita pela janela, subitamente, parece-me uma espia comunista e quase a consigo ouvir praguejar num russo com sotaque de montanha.
A insólita tabacaria do lado, muito provavelmente, será um negócio de fachada que encobre um entreposto de tráfico de droga.
O pássaro que me entrou em casa, na verdade, talvez fosse um evoluído mecanismo robótico que andou a filmar os meus movimentos e a fotografar os documentos secretos que não guardo aqui.
E o meu senhorio…esse, desde aquela conversa sobre o curso de segurança pessoal em Israel, ninguém me tira da cabeça que é um agente da Mossad.
Ontem à noite, com cinco graus na rua, apareceu-me à porta de t-shirt, shorts e cabelo molhado. Estendeu-me uma bacia cheia de calhaus e limos que, percebi depois, eram percebes. Olhei para aquilo desconfiada enquanto ele me dava precisas instruções técnicas sobre a arte da cozedura dos calhaus. Não tive coragem para lhe dizer que não tenho sal em casa.
Mesmo assim, não ficaram mal. Comi-os acompanhados de duas cervejas e fui para a cama embriagada. Acordei com uma dor de cabeça insuportável e com o plano secreto de vigiar de perto o faroleiro. Pressinto ser essa a chave para a resolução do mistério das coisas que não são o que parecem.
Esta tarde vou pescar sargos com o israelita da Mossad.
Felizmente, trouxe comigo os meus botins da Burberry.

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