domingo, 8 de maio de 2011

Qui saudadjé di ocê

Amigo:
Acho que foi por ter passado por um campo de girassóis no meio do qual havia uma única papoila. Vermelha e não encarnada.
Gostarias de me ver aqui por estas estradas fora a assassinar pássaros e lebres com a determinação de quem nunca fez outra coisa na vida a não ser assistir a matanças de porcos. Ainda não me convidaram para nenhuma. Em substituição vieram-me chamar para presenciar o nascimento de um burro. Não cheguei a tempo. Demorei a encontrar o calçado apropriado.
Gostaria eu, ainda mais, de te ver aí por essas praias fora caminhar em ziguezague com um livro debaixo do braço e outro a gritar-te dentro da cabeça. Aposto que chegas sempre a tempo mas apenas porque vais descalço.
Pedi ao inverno que te abrace por mim. Suponho que já aí tenha chegado. Espero que não exagere nos afectos e te poupe a uma hipotermia.
Em Setembro voltarei a mudar de terra. Estive a analisar o globo terrestre e descobri que estarei uns quilómetros mais perto de ti.
Ocorreu-me que se há catorze anos a World Press Photo só demorasse até Abril para chegar a Lisboa talvez ainda hoje eu fosse uma pevide.

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