sábado, 4 de junho de 2011

para o M. que me fez estar em casa fora de casa. para a M. que não quer me ver partir.

- tens a certeza que queres ir jantar comigo? só comigo?
+ sim.
- hum… é que já não estamos juntas há algum tempo.
+ pois não. de ti não aceito cobranças nem ofereço nada em penhor, tem paciência. mas é hoje e vamos a pé. vens ajudar-me a despedir-me.
- ah, já percebeste… então.
+ já.

+ é cómico quererem colocar um prato à tua frente.
- pois é. deixa estar, não contraries. e então…?
+ tem sido difícil. muito. tu sabes.
- sei. tenho estado calada à espera que a moeda se gaste e o brinquedo pare de dar voltas. tu, que até enjoas.
+ e como!
- e como… não podes com nada que gire e eras a criança que nos passeios da escola tinha que ir nos bancos da frente do autocarro, ao pé dos professores... ai. não acredito que vais pedir gnocchi.
+ ela fazia-os tão bem.
- por isso mesmo!
+ estou com saudades…
- vai te calhar mal…
+ és uma desconfiada. preciso que me ajudes a superar os truques.
- que truques?
+ no passeio de volta vou tos apontar.
- ah já sei… os antiquários da D. Pedro V, aquela colina esparramada à frente de S. Pedro de Alcântara.
+ sabes, ainda não sei a quem vou deixar a minha colecção de calçadas. talvez à M.



















+ à vinda para cá descobri que da Rua Maestro Pedro de Freitas Branco vê-se a cúpula iluminada da Estrela...
- deixa-te disso.
+ já deixei, querida. já deixei.
- essas exuberâncias cansam tanto como a praia. cheira-me a fim de Agosto.
+ a mim também, não penses que endoideci.
- sei que não. sei que estás aí dentro. algures…
+ não sejas idiota. não havia outra forma de suportar isto senão distraída. com borboletas. mercados de flores. quiosques de limonada. colecção de céus e de raios de sol. mas sempre de bússola no bolso.
- …











+ por isso deixei de lhes falar. a todos. já tinha os meus de casa a boicotarem-me com as humidades do amor saudoso e sofrido pelo meu desterro. e o M. que não se cansa de mim. eu que me fui tornando cada vez mais espaçosa lá em casa…
- ninguém levou a mal.
+ não sei. isso ainda vou ver. falta pouco e por isso é que ainda menos posso falar-lhes. ou é a sabotagem do final, que se quer pacífico. já não tenho forças.
- estão todos à espera. sossega.
+ receio. dizes-lhes que logo que recupere as 240 horas de sono que tenho em atraso…
- está caladinha que isso nem parece teu. daqui a nada vais começar…
+ a cidade encheu-se de sardinhas decoradas… tenho que levar uma.
- daqui a nada estás é a dizer que gostas de festas populares na rua, poupa-me! queria ver-te nessa alegria romântica no S. João do Rio Largo a levar uma navalhada!
+ é tudo no plano que só plana, menina. não pousa. bem sabes que não bisei sequer o S. João do Porto…



+ tenho sete pedras de gelo, redondas, na groselha. formam uma flor a boiar, repara!
- só tu... ninguém te conhece... a vocês, que somos duas!
+ pois somos. e gosto tanto de estar connosco.

3 comentários:

  1. Estaremos sempre, todos, à tua espera.
    Cuca.

    ResponderEliminar
  2. melhor que deixar coisas para trás é encher uma mochila com souvenirs. em determinada altura doi nas costas, mas vale a pena. um saco cheio de ossos, meio dickens, meio tim burton.

    ResponderEliminar