sábado, 11 de agosto de 2012

Não gosto nada de misóginos

Na tentativa de ultrapassar uma resistência antiga que julguei injusta dediquei os últimos dias em exclusividade literária a Anton Chekhov. A antipatia que senti aos dezoito anos manteve-se aos trinta e oito. A diferença é que agora consigo perceber porquê. Dão-se alvíssaras a quem conseguir encontrar uma personagem feminina de Chekhov que não seja uma tonta.

domingo, 5 de agosto de 2012

Frozen Moment


Tive muitas vezes dúvidas sobre essa estranha coisa da alma e, em especial, sobre se eu própria teria sido contemplada com uma. A dúvida foi séria mas não foi razoável.

Passei os últimos dez dias sem a minha indisciplinada alma que se recusou a voltar comigo para Lisboa. Sem alma, nem ânimo, nem sucedâneo com diferente nome, sou um corpo inquieto que deambula pelo asfalto à procura de si próprio nas esquinas onde os cães fazem chichi. A metáfora será exagerada mas serve para dar a ideia geral de um estado de falência orgânica.

Às vezes penso que nunca recuperarei essa alma que ficou lá, congelada nesse momento de que fala a música.

Outras vezes, num plano menos metafísico e mais pragmático que se perdoa a quem já não tem alma, penso que deveria ter insistido para que me fizessem um desconto no bilhete de avião. Sempre são menos 21 gramas.

copo meio cheio

Se "a esperança é a trela da submissão", e é, aqueles que nos desesperam completamente são, paradoxalmente, os nossos libertadores.
Agradecer-lhes por isso, claro, seria levar as boas maneiras a um extremo fundamentalista.

(a frase, cuja formulação original desconheço, é de Raoul Vaneigem)