quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

falta de espaço


O puxador da porta de um quarto de hotel que se abriu de rompante para deixar sair uma mulher que correu descalça pelo corredor ao encontro do abraço urgente do seu amante.
A pá do moinho onde se sentou a criança que balouçou as pernas enquanto se fez elevar numa paisagem de girassóis.
O copo vazio que um homem pousou lentamente, num gesto sincronizado com a decisão de partir de si próprio para nunca mais regressar.
A aliança arrancada num segundo de raiva e disparada da janela do quarto andar que atingiu a pena do pássaro azul que fugiu de uma gaiola próxima.
A caneta com que alguém escreveu os versos que outrem escondeu no fundo da última gaveta da mesinha de cabeceira.

E este cofre minúsculo onde não cabem os únicos objetos que interessaria guardar. 

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