quinta-feira, 12 de junho de 2014

A morte branca



A verdade é que tenho andado indecisa entre combater esta tosse suspeita ou aceitá-la na perspetiva da oportunidade de morrer como heroína romântica.

Marie Duplessis, por exemplo, foi uma desprezivelmente fútil cortesã que nunca fez nada de relevante na sua curta vida. Suspeito que não teríamos ouvido falar nela se não se desse o caso de, na ruína e já sem novos homens por perto para arruinar, ter tido a excelente ideia de se deixar morrer de tuberculose.
A literatura eternizou-a na Marguerite Gauttier de "A Dama das Camélias". A música, na Violeta Vallèry de "A Traviata".
Talvez a designação "morte branca" se deva menos ao estado final de absoluta palidez das vítimas, do que à capacidade da doença de branquear a negrura das condutas.
Desde que se morra dela, é claro.





2 comentários:

  1. Mais vale, digo eu, mais vale enfrentar a tosse ao estilo de Mary Read:
    "Mary lo retó a duelo y se batió con él a dos manos, según la antigua usanza de las islas del Mar Caribe: el profundo y precario pistolón en la mano izquierda, el sable fiel en la derecha. El pistolón falló, pero la espada se portó como buena..." conta Borges: sabre e pistolão, pois claro, sem tréguas.
    E Mary Read é, convenhamos, uma personagem muito mais interessante que Marie Duplessis.

    Bom dia, Cuca :)

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    1. Já para não dizer que, sendo eu herdeira de Anne Bonney, esse é um estilo que me assenta como muito mais naturalidade...

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