sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Sortes chinesas

Ouvi os versos, pela primeira vez, numa noite de início de verão, deitada numa varanda com vista para Orion.
Falava na sorte moldada pelo barro daquela terra. Uma sorte, dizia o verso, marinheira. Uma sorte, explicava, entre o mar e o vento norte.
Aprendi as palavras de cor, que é como quem diz, com o coração. 
Foi para me libertar delas que as escrevi, pela últma vez, numa manhã de início de outono, num antigo livro de visitas.
Não voltei a ouvir ou a escrever os versos e menos ainda a ver o barro daquela terra. 
Mas agora, vários anos depois, percebo que, afinal, na partida não me libertei de nada. Nem dos versos que continuo a saber com o coração, nem da sorte que foi moldada naquele barro.
Uma sorte marinheira, entre o mar e o vento norte.


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