quarta-feira, 10 de junho de 2015

Camões

A Luís de Camões 

Sem cólera nem mágoa arromba o tempo 
As heróicas espadas. Pobre e triste, 
À nostálgica pátria regrediste
Pra com ela morrer nesse momento, 
O capitão, no mágico deserto.
Tinha-se a flor de Portugal perdido
E o áspero espanhol, antes vencido,
Ameaçava o seu costado aberto. 
Quero saber se aquém da derradeira 
Margem compreendeste humildemente 
Que o império imperdido, o Ocidente 
E o Oriente, o aço e a bandeira, 
Perduraria (alheio a toda a humana 
Mudança) em tua Eneida lusitana. 


Jorge Luis Borges, Obras Completas II

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