terça-feira, 9 de junho de 2015

Coleção de céus

- o que é que ficou?

Ficaram os restos de uma limpeza desleixada. Os papéis das pastilhas elásticas que nascem no fundo das malas de estações passadas. Moedas de cêntimo nos bolsos das calças esquecidas. Catálogos de objetos que desistimos de necessitar. O pó das partículas de nicotina armazenadas. Foi o que encontrei em mim. Três ou quatro lembranças que não chegam para traçar uma memória:
O teu sorriso feliz de garoto de rua no dia em que me recebeste e o céu que era branco; A tua pele sob as ondas da praia vazia na manhã em que te ganhei e o céu que era de prata; o teu abraço nas ruínas desertas de uma casa promontório do mar na tarde em que julguei perder-te e o céu que era do azul da eternidade; a tua voz a elevar a lua num final de dia em que me ensinaste o mundo e o céu que era violeta; o teu olhar de desespero na noite em que à distância fiquei a ver-te procurar-me e o céu que era de todas as cores. 
Ficou apenas o som das rodas do avião a separarem-se do asfalto no dia em que me perdeste e o céu que é o chão.
- ficou uma coleção de céus.

2 comentários:

  1. [Prova de que os restos podem dar inicio a belas obras de arte (marítima), vê:

    http://www.boredpanda.com/wing-wo-wave-white-cloud-city-ann-carrington/
    http://www.anncarrington.co.uk/

    Um abraço, capitã.

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