terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Da Paris Review 4

Então o que é que os romances fazem?

Ao leitor comum? Os romances dão ao leitor algo para ler. No máximo, os escritores mudam a maneira como os leitores lêem. Essa parece-me a única expectativa realista. Também me parece mais do que suficiente. Ler romances é um prazer profundo e singular, uma actividade humana absorvente e misteriosa que não exige nem mais nem menos justificado moral ou política do que o sexo.

Mas não há outras repercussões? 

Perguntou-me se achava que a minha ficção tinha mudado alguma coisa na cultura e a resposta é não. Claro, houve algum escândalo, mas as pessoas escandalizam-se a toda a hora; é um modo de vida para elas. Não significa nada. Se me pergunta se quero que a minha ficção mude alguma coisa na cultura, a resposta continua a ser não. O que quero é possuir os meus leitores enquanto eles lêem um livro meu - e, se conseguir, possuí-los de maneiras que os outros escritores não conseguem. Depois, deixá-los regressar, tal como eram, a um mundo onde todos os outros tentam mudá-los, persuadi-los, tentá-los e controlá-los.
(...)

Philip Roth, in Entrevistas da Paris Review 2, Tinta da China, pg. 201.

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