sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Tratado de Tortuga

Estávamos sentados, lado a lado, à mesa de um restaurante de Tortuga e lá fora caíam as primeiras chuvas quentes de novembro. Vi passar um casal que, pelas ruas desertas, caminhava de mãos dadas, encharcado até aos ossos, na lentidão de uma hora de sol manso. 
Entre as entradas e o prato principal ele revelou-me os seus projetos de enriquecimento meteórico. Era um bom plano e um bom enriquecimento e se havia no mundo pessoa capaz de o levar a cabo era ele. 
Disse-me ainda que, depois de enricar, tencionava, por fim, dedicar os seus dias a amar-me. Avaliei a proposta com os olhos fixos no casal que se afastava lentamente e não me pareceu completamente descabida.
Mas quando levei o copo à boca, percebi que o vinho azedara já na mesa.
Nunca antes, com tanta alegria, me haviam declarado um amor tão condicionado. 
Num ou noutro porto, já tinha conhecido pessoas que me fizeram sentir ignorante ou mesmo estúpida. Mas foi a primeira vez que alguém me fez sentir miseravelmente pobre. 



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