segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Ah, a poesia

na noite mais curta
lavo os pés
e adormeço vestido 

Matsuo Bashô, in O eremita viajante (haikus – obra completa), Assírio & Alvim

Dizia Borges que alguém (não importa quem) dizia que não era possível imaginar o universo sem um certo verso de Poe (não importa qual). 
Eu posso imaginar o universo sem Poe. Mas já não posso concebê-lo sem este haiku de Bashô. 
Ninguém nos explica a razão pela qual um verso pode espantar-nos como uma faca afiada no meio das omoplatas. 

12 comentários:

  1. "A essência do haiku é o "corte" (kiru). Isto é geralmente representado pela justaposição de duas imagens ou ideias e um kireji ("palavra que corta") entre elas, um tipo de marca de pontuação verbal que sinaliza o momento da separação e destaca a maneira pela qual os elementos justapostos são relacionados."

    lá está...uma faca afiada no meio das omoplatas...:)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ah, afinal quando disse que ninguém explica, estava enganada. Acabaste de fornecer a explicação!!! :)))
      Ando a tentar escrever haikus e apesar de não parecer é muito difícil (precisamente por causa dessa parte do corte)

      Eliminar
    2. eu, pecadora me confesso, capitã, fui ver à Wikipédia...

      Eliminar
  2. O que surpreende é a vontade do impulso.

    ResponderEliminar
  3. «Não haverá futuro — e haverá
    somente esta lâmina
    de quartzo lacerando
    a carne amarrotada. E haverá
    somente este punhal
    de cinza cravado
    entre almofadas inúteis
    e lençóis vazios.»

    Albano Martins (que, como tu, admirava Bashô -- um livrinho chamado Com as Flores do Salgueiro)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Não conheço, mas adorei o poema.
      Obrigada, Flor silvestre!

      Eliminar
  4. Isto deve mesmo ser uma epidemia. Não é que comprei o livro (esse mesmo) na semana passada...

    ResponderEliminar