segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Destoriada

Tagik, o berbere contador de estórias, dormia a sono alto à entrada da tenda. 
Fizemos a longa viagem pelas areias do deserto em busca de uma estória. Não há na vida coisa mais valiosa do que uma boa estória. Teria de bom grado percorrido duas vezes a distância desta areia infinita e suportado as feridas que o sol do meio dia deixa na boca e as pontas dos dedos queimadas pelo frio da noite de estrelas, se, ao menos, tivesse encontrado Tagik acordado na sua tenda, de mão estendida para a minha moeda e olhos fixos para lá de onde nasce o vento, que é também o sítio de onde vêm as  boas histórias. 
Mas Tagik, o berbere contador de estórias, não acordou.
E eu regressei desta viagem, um pouco mais ferida, um pouco mais cansada, um pouco mais velha, com o bolso pesado pela moeda que, desta vez, a mão de Tagik não quis receber. 

6 comentários:

  1. Capitã, sei que ficará muito aquém de uma estória contada por si, ou pelo berbere contador de estórias, mas, ainda assim, quero muito contar-lhe uma estória:

    Era uma vez...
    Vinda do mundo das regras, Leis, catálogos e secções dos burocratas, cheguei a um lugar iluminado pela luz de velas em candelabros que mãos invisíveis seguravam. Na sala espaçosa de um navio dançavam piratas ao mesmo tempo que brindavam com canecas de barro cheias de Rum, sentada a um piano antigo, (soube, mais tarde, tratar-se de uma pilhagem recente. Os burocratas, por considerá-lo obsoleto, tinham-no abandonado, aproveitaram-no os piratas) mas, Capitã, estava a contar-lhe que, sentada a esse piano, estava a responsável pela música que ali se ouvia, uma mulher a pôr em prática o resultado das aulas de piano que tinham começado há não muito tempo, (a professora, também se encontrava no navio como convidada (à força)). Entretanto, um homem cujo nome nunca consegui perceber e portanto jamais conseguirei pronunciar, dirigiu-se à mulher sentada ao piano tratando-a por Capitã, vim depois a saber tratar-se do cozinheiro do navio, de nome impronunciável, de dotes culinários inexistente, porém, imprescindível.
    Este lugar existe graças ao enorme talento de uma mulher, que pensa que as estórias são uma parte fundamental da vida, e, por isso, para além de lê-las, decidiu também criá-las e contá-las. E essas estórias, bordadas em rendilhado de palavras, ficarão para a história, através da sua memória e de todos os que tiverem a sorte de encontrar este lugar. Um lugar onde habitam, sob o brilho das estrelas, criaturas míticas e a sua Capitã, Cuca, a Pirata.
    A este lugar encantado, os burocratas chamam Blog.

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    1. Ah Cláudia Filipa,
      Que coisa tão boa trazer-me assim toda essa pirataria de que eu própria tenho saudades.

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  2. Nã quis receber porque já lhe roubaste o posto :)

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    1. Sou uma mera traficante das estórias dos Tagik deste mundo. E tu és um deles.

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